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Cardiomiopatia induzida por antimaláricos em pacientes com Lúpus Eritematoso: tão raro quanto considerado?

Os antimaláricos (AM) fazem parte do carro chefe no que tange o tratamento e manejo do Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES). Além dos seus vários efeitos benéficos, o seu perfil de segurança é bastante aceitável. Portanto, os AM são recomendados para todos os pacientes com LES, sem contraindicações específicas. O seu principal efeito adverso é o dano retiniano, entretanto doença cardíaca tem sido descrita em casos isolados, mas fatores como duração e dose cumulativa parecem ser decisivos para o desenvolvimento da doença. O objetivo desse estudo foi descrever oito pacientes com cardiomiopatia induzida por AM (AMIC) em uma coorte de pacientes com diagnóstico de LES.

Os pacientes incluídos eram atendidos na Toronto Lupus Clinic e com diagnóstico fechado (baseado na biópsia endomiocárdica) e possível AMIC (com base na ressonância magnética cardíaca e outras investigações).

Nos últimos dois anos, oito pacientes do sexo feminino com idade mediana 62,5 anos, com duração média da doença de 35 anos e tempo médio de uso do AM de 22 anos, foram diagnosticados com AMIC. Em três pacientes o diagnóstico foi baseado em biópsia endomiocárdica, sendo que em quatro a ressonância magnética cardíaca foi altamente sugestiva. A outra paciente foi diagnosticada com bloqueio atrioventricular total, hipertrofia ventricular e septal esquerda, juntamente com toxicidade ocular concomitante. Todas as pacientes apresentavam troponina I cardíaca (cTnI) e peptídeo natriurético cerebral (BNP) anormais, enquanto sete dos oito também tinham creatinofosfoquinase cronicamente elevada. Durante o acompanhamento uma paciente morreu de insuficiência cardíaca refratária. Nas outras pacientes, a regressão da hipertrofia e a diminuição dos biomarcadores cardíacos foram observadas após a cessação do AM.

Os autores concluíram que apesar da AMIC ser considerada extremamente rara, pode estar subestimada pela provável falsa atribuição da insuficiência cardíaca ou hipertrofia a outras causas. O estudo sugere que certos biomarcadores (cTnI, BNP) e achados de imagem podem levar ao diagnóstico precoce, e portanto aumentar a sobrevida destas pacientes.

Referência: Tselios, et al. The Journal of Rheumatology 2019; 46:4

Autor: Dr. Carlos P. Capistrano

Reumatologista da SRRJ