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Por que ficar “de olho” na Artrite Idiopática Juvenil Oligoarticular?

A artrite idiopática juvenil (AIJ) oligoarticular é a forma mais frequente de apresentação das artrites crônicas na infância. Como, na maioria das vezes, é pouco sintomática e responde bem ao tratamento com anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), nem sempre é a mais frequentemente encontrada na prática médica do reumatologista pediátrico uma vez que, frequentemente, a criança já foi tratada pelo seu pediatra ou pelo ortopedista e ficou assintomática. Muitas vezes, estes desconhecem as comorbidades associadas à AIJ e complicações, por exemplo, oculares, que poderão ocorrer.


A idade de início é, na maioria das vezes, entre 1 e 3 anos de idade, predomina no sexo feminino e acomete mais frequentemente grandes articulações de membros inferiores. A forma persistente ocorre quando o número máximo de articulações acometidas não ultrapassa quatro. A forma estendida é aquela que tem até quatro articulações acometidas nos primeiros seis meses de doença, mas depois, surge uma poliartrite. Embora clinicamente semelhantes, é importante diferenciar a AIJ oligoarticular estendida da AIJ poliarticular, uma vez que o acometimento ocular é bem mais frequente na primeira.


A AIJ oligoarticular é pouco sintomática e geralmente se limita ao acometimento articular e ocular, sendo muito raro o encontro de manifestações sistêmicas. Da mesma maneira, os exames laboratoriais podem se mostrar normais ou pouco alterados, mesmo os marcadores de inflamação. No entanto, o anticorpo anti-nuclear (ANA) pode estar presente em títulos baixos ou moderadamente elevados em cerca de um terço das crianças, principalmente nas meninas e nos casos com uveíte.


A uveíte anterior crônica pode ocorrer em cerca de 20-25% dos casos de AIJ oligoarticular e, na maioria das vezes, é oligo ou assintomática, daí a necessidade da realização de exames oftalmológicos rotineiramente (biomicroscopia ou exame da lâmpada de fenda) para o diagnóstico precoce desta complicação, que pode deixar sequelas importantes como catarata, sinéquias, ceratopatia em faixa, diminuição da acuidade visual e cegueira. Outro fator de morbidade importante nesta forma de AIJ são as anormalidades de crescimento, principalmente em membros inferiores.
Os principais diagnósticos diferenciais incluem a AIJ relacionada à entesite (semelhante às espondiloartrites) e a artrite psoriásica. É importante afastar trauma, artrite séptica, hemofilia, tuberculose, hemangioma intraarticular, sinovite vilonodular e sarcoidose, dentre outras enfermidades, nos casos em que apenas uma articulação encontra-se acometida.


O tratamento do quadro articular geralmente responde bem ao uso de AINEs. Quando isto não ocorre, uma boa opção é o uso de corticoide intraarticular e, para os casos resistentes, metotrexato e drogas inibidoras do fator de necrose tumoral (drogas anti-TNF) são opções. Lembrar sempre da importância do exame oftalmológico de rotina (inicialmente, a cada 3 meses) e da necessidade de terapia física naqueles casos com possibilidade de sequelas articulares ou de assimetria no crescimento de membros.
 
Autor: Flávio Sztajnbok
Reumatologista Pediátrico da SRRJ
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