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Exames e Tratamentos

Treat to target (T2T): uma estratégia na Artrite Idiopática Juvenil

 
A Artrite Idiopática Juvenil (AIJ) é a doença mais frequente da Reumatologia Pediátrica, com incidência de 1:10.000 e prevalência de 1:1000. Ela se caracteriza pela presença de artrite com duração superior a 6 semanas, início antes dos 16 anos e etiologia desconhecida. Se a AIJ não for reconhecida e tratada a tempo, estima-se -se que metade dos pacientes continuará a ter artrite na vida adulta e que 1 em cada 3, sem artrite, apresentará dano permanente.


A história e exame físico são a base do diagnóstico. O pediatra está ciente que artrite é apenas um sintoma de diversas doenças e que é necessário o encaminhamento para centros especializados para o diagnóstico diferencial. Existem 7 subtipos de AIJ e esta classificação se baseia em características tais como o número de articulações afetadas, presença de manifestações sistêmicas, psoríase, uveíte anterior, positividade de alguns exames laboratoriais (fator reumatoide e HLA-B27) e história familiar de algumas doenças autoimunes. Com base na classificação, o reumatologista pediatra irá definir o melhor tratamento daquele grupo.

Treat to target
Treat to Target (T2T) foi um termo criado há alguns anos para descrever um tipo de tratamento precoce, agressivo, ajustado em etapas, seguindo um algoritmo, que tem por objetivo controlar a inflamação que causa problemas a longo prazo. Um alvo ambicioso é obter a remissão da doença (ideal) ou pelo menos, atividade mínima, prevenindo dano articular e disfunção, melhorando a capacidade física e a qualidade de vida. Este tipo de conduta começou com a artrite reumatoide e tem sido aplicado a outras doenças do campo da Reumatologia.


Após o diagnóstico é necessário informar os pais e/ou paciente sobre os diversos aspectos da doença e do tratamento. A comunicação é um aspecto importantíssimo para a aderência ao tratamento, se inicia na primeira consulta, continua nas demais visitas programadas e se intensifica com informações por escrito que podem ser consultadas em casa e que ajudarão na interação com o reumatologista no futuro.


O sucesso do tratamento não depende exclusivamente da prescrição de drogas potentes, indiscriminadamente, para todos. É necessário ter em mente alvos a alcançar e usar medidas de avaliação padronizadas, validadas em crianças com AIJ, capazes de monitorar o progresso do tratamento. Além da buscar a presença de marcadores de atividade inflamatória em exames laboratoriais (proteína C reativa e velocidade de hemossedimentação elevadas), identificar ao exame físico o número de articulações ativas e presença de manifestações extra-articulares, o especialista dispõe de escalas visuais da dor e de bem-estar  e outros instrumentos específicos capazes de quantificar diversos aspectos da doença tais como a atividade da doença, a resposta ao tratamento, a capacidade funcional e a qualidade de vida (JADAS, JAMAR, ACR Pedi CHAQ).


O relato de pais e crianças sobre como a doença e/ou seu tratamento afetam as atividades físicas, os aspectos sociais e emocionais (PCRO = Parent/Child Reported Outcome) também ajudam o reumatologista pediatra a elaborar o plano de tratamento.
 
Como encaminhar os pacientes
Todo tempo é precioso e os serviços de referência devem ser contatados imediatamente a fim de minimizar o sofrimento da criança e da família na procura de ajuda e na prevenção de sequelas. Somente o especialista tem os conhecimentos e as condições de utilizar os avanços terapêuticos que permitirão o controle da doença. No Rio de Janeiro, percebemos que uma das maiores dificuldades tem sido receber pacientes com AIJ e outras doenças reumatológicas em fase precoce e por isso estamos tentando identificar os pontos onde o sistema de regulação pode ser aperfeiçoado, deixando aberta esta “janela de oportunidade”. No IPPMG (Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira) estamos com as portas abertas e desejosos de receber estes pacientes a fim de oferecer o melhor tratamento. Caso o pediatra ou o reumatologista tenham dificuldade em referir pacientes, solicitamos que entrem em contato diretamente com o NIR pelos telefones 39384800, 39384801 ou email (nir@ippmg.ufrj.br),  com o Serviço de Reumatologia Pediátrica (tel. 3938 4793) ou diretamente com reumatologistas que orientarão como obter rapidamente a consulta.
 
 

Sheila Knupp Feitosa de Oliveira
Reumatologista Pediátrica
Chefe do Serviço de Reumatologia Pediátrica do IPPMG/UFRJ
 
REFERÊNCIAS
 

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