Em uma célebre passagem bíblica, Jesus é colocado à prova quando escribas e fariseus chegam ao seu encontro com uma mulher adúltera debaixo do braço. A punição para o adultério era o apedrejamento. De um lado, um grupo ansiava pelo cumprimento da pena - sedentos por violência - e de outro, havia aqueles curiosos sobre como o homem de Nazaré resolveria aquela pendenga.
Instado a se pronunciar, Jesus no alto do seu saber e calmamente inverte o alvo do julgamento e provoca os então julgadores a prosseguirem com a contenda, se forem capazes de se autojulgarem não pecadores: “Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.”
Confrontados com seus próprios pecados os “paladinos da moral” bateram em retirada, certamente desconcertados com a lição Dele. A adúltera foi recepcionada por Jesus que a conclamou a seguir em paz, sem mais pecar.
A internet é um instrumento poderoso e o mais democrático veículo até então inventado. Contudo, como toda ferramenta precisa ser bem utilizada, caso contrário as consequências podem ser desastrosas.
O jornalista do alto escalão global, William Waack, fez um comentário absurdo e reprovável sob todos os aspectos quando alcunhou um buzinaço, enquanto aguardava para fazer uma matéria, como “coisa de preto”!
O fato é grave e inaceitável, tendo a sociedade todo direito e eu diria até o dever de se indignar. Mas, o que vimos nas redes sociais foi um linchamento implacável de uma pessoa que até então nunca tinha tido comportamento semelhante. Note-se que sequer ouvimos de fato o acusado e já promovemos sua decapitação em praça pública.
Ainda que imaginemos injustificável qualquer ato de racismo, cuja atitude é um retrocesso moral, um escândalo social e uma prova insofismável de uma ignorância dantesca, precisamos ter mais equilíbrio em nossos julgamentos. O episódio nos brindou com a oportunidade de mais uma vez ratificar o horror que é o preconceito e de refletir sobre nosso comportamento nas redes sociais.
Os escribas e os fariseus de hoje têm Facebook, WhatsApp e Twitter. E tal como seus ancestrais esquecem seus pecados e atiram a pedra sem qualquer cerimônia.
Que o jornalista receba a sua reprimenda e sofra as consequências no tamanho de seu ato medonho, sem que façamos do episódio um evento de jogos vorazes e de julgamentos que muitas das vezes esquecem-se do que está sendo julgado para tão somente exprimir um sentimento freudiano pelo acusado, tal qual um espelho reflete a imagem.
Não sou religioso e tenho lá minhas desavenças com Deus, mas neste caso estou com o Cristo, seu filho predileto. Waack siga seu destino e não peque mais.
Autor: Jansen dos Santos Oliveira