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Variedade

Pós-verdade

Todo ano a Oxford Dictionaries, departamento da universidade de Oxford responsável pela elaboração de dicionários escolhe uma palavra para compor o dicionário. Em 2015, por exemplo foi um emoji - mais especificamente, aquela carinha amarela que chora de tanto rir, fica furiosa, pensativa, etc. No ano passado, 2016, elegeu uma nova palavra para a língua inglesa: “pós-verdade” (post-truth).

A iniciativa da instituição não se pautou tão somente em incorporar a palavra, mas também em defini-la. “Pós-verdade”: um substantivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”.

Trocando em miúdos são situações criadas onde as crenças pessoas e apelos emocionais se sobrepõem aos fatos, ainda que comprovados. Aquilo que a  hermenêutica na fala de Nietzsche admitia, que "não há fatos, apenas versões".

Com a grande adesão das redes sociais, as manifestações têm quase se tornado obrigatórias aos adeptos. Opiniões para todo gosto são destiladas sem qualquer tipo de constrangimento. Leigos discutem com catedráticos assuntos dos mais complexos à despeito da ignorância de um contra anos de preparo do outro. Acrescentamos a isso, um nível de intolerância elevadíssimo fomentando a polarização das resenhas no dia a dia.

Para diversos veículos de imprensa, a proliferação de boatos no Facebook e a forma como o feed de notícias funciona foram decisivos para que informações falsas tivessem alcance e legitimidade. Este e outros motivos têm sido apontados para explicar ascensão da pós-verdade.

Uma infinidade de notícias percorre a internet anunciando desde a cura capilar pela aplicação de limão no couro cabeludo até descobertas de planetas semelhantes a Terra. No entanto, é preciso distinguir a mentira da pós-verdade, pois aquela, inclusive, pode gerar consequências tanto penais quanto cíveis.

A pessoa que espalha uma mentira sobre o adversário não é adepta a pós verdade, mas simplesmente uma mentirosa. Do contrário, aquela que vasculha o universo da internet e acredita naquilo que encontra, por coincidir com os  valores que acredita, já que a nossa identidade hoje é afetiva e não objetiva, como d’antes, é partidária desse conceito moderno de verdade.

Essa ótica individualista do conhecimento conduz a um pensamento restrito de cada indivíduo em relação às visões do outro. Pensando ser o detentor da verdade, o ataque aos demais que lhe são contrários são frequentes. Isso tem ocorrido na política, por exemplo, quando uma legenda acredita estar ao lado da verdade, do bem, atacando o outro lado, do mal, como sendo a coisa mais certa a fazer, e vice-versa.

Se quisermos percorrer um caminho menos tortuoso na trilha da evolução, teremos que ficarmos mais atentos aos nossos próprios atos, bem como do próximo, a fim de identificar se estamos sendo seduzidos pelos devaneios da manipulação, pois de concreto é que a verdade, segundo o provérbio chinês, sempre terá três lados: o meu, o seu e da verdade.

Autor: Jansen dos Santos