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Combatendo o sedentarismo durante a pandemia de COVID-19

Combatendo o sedentarismo durante a pandemia de COVID-19

Com o início desta pandemia de COVID-19, a maioria dos países está adotando o distanciamento social e isolamento objetivando retardar a infecção, para o achatamento da “curva de transmissão” da doença. Polêmicas sobre a efetividade destas medidas à parte, o fato é que aqueles que adotam estas medidas tendem a permanecer mais sedentários. 

Recentemente, no último número do periódico Nature Reviews Rheumatology (volume 16, página 347–348), pesquisadores de São Paulo e da Austrália (Pinto et al), escreveram sobre o combate ao sedentarismo entre pacientes reumatológicos durante a atual pandemia.

Iniciaram comentando a importância das recomendações para continuação dos tratamentos e manutenção do auto-isolamento social. Destacaram que inatividade física e comportamento sedentário (permanecer muito tempo sentado) são altamente prevalentes nos pacientes com doenças reumáticas. Mostraram que 38-72% destes pacientes são fisicamente inativos, com sedentarismo variando de 8,3 a 14,0 horas /dia, valores superiores aos da população em geral (31% e cerca de 7,5 horas / dia).

Prosseguiram mostrando que o auto-isolamento e a quarentena, necessários para o enfrentamento da pandemia, reduziram oportunidades de os pacientes permanecerem fisicamente ativos. Posteriormente, lembraram que inatividade física e comportamento sedentário são associados a problemas de saúde física e mental e aumento da mortalidade específica por doença e por todas as causas. Além disto, ressaltaram que mesmo breves períodos desse comportamento sedentário podem ser prejudiciais. Citaram que, por exemplo, a redução em 2 semanas das passadas diárias de 10.000 para 1.500, acarretam diminuição da sensibilidade à insulina e metabolismo lipídico, aumento da gordura visceral e diminuição da massa livre de gordura e aptidão cardiovascular em adultos saudáveis. Acrescentaram também um dado preocupante: uma série de exercícios de intensidade moderada não neutraliza os efeitos prejudiciais de 4 dias de inatividade. Dessa forma, sugeriram que os indivíduos podem se tornar "resistentes" a adaptações metabólicas induzidas pelo exercício.

Prosseguiram relembrando das atuais evidências que a falta de uso acarreta à destruição articular, fraqueza e atrofia musculares, provocando limitação funcional. Assim, citando que o "paradigma do repouso" para doenças reumáticas caiu em desuso, enfatizaram a atividade física como uma importante parte adicional da terapia destas doenças.

Pinto et al (2020) citaram que a European League Against Rheumatism (EULAR) preconiza o exercício como parte do tratamento para pacientes com artrite inflamatória e osteoartrite, melhorando os sintomas da doença, capacidade física e qualidade de vida. Destacaram que os programas de exercícios em casa são viáveis e podem ser eficazes na promoção da saúde dos pacientes com doenças reumáticas sem causar nenhum dano importante.

Baseados nestas recomendações do EULAR, os autores recomendam que profissionais de saúde prescrevam atividades físicas a seus pacientes durante a pandemia. 

Os pesquisadores comentaram que de uma forma geral, pacientes com doenças reumáticas podem aderir às diretrizes para a população geral, ou seja, caso sejam previamente inativos, devem iniciar com exercícios mais leves e, caso contrário, podem manter sua rotina de exercícios ou adaptá-la para ser executada em casa. 

Por outro lado, alertam que para pacientes com limitações físicas específicas ou doença reumática em atividade, programas de exercícios projetados para a população em geral podem não ser o ideal do ponto de vista da segurança. Para estes casos os autores sugerem que os pacientes se movimentem mais e permaneçam menos tempo sentados. Destacam que essas recomendações também são válidas para crianças e adolescentes com doenças reumáticas.

Concluem ressaltando que pacientes com doenças reumáticas já apresentam um aumento do risco de sedentarismo, que pode ser exacerbado pelo auto-isolamento, de forma que os profissionais de saúde que acompanham pacientes reumáticos devem orientar seus pacientes a modificarem estes hábitos. 

E você, já orientou seus pacientes a praticar atividades físicas?

Autor do resumo:  Carlos Augusto F. De Andrade
Doutor em Ciências, Médico (Reumatologista) 
Diretor Científico e Presidente Eleito  da Sociedade de Reumatologia do Rio de Janeiro (SRRJ)