Blog

Medicamentos

O cuidado farmacêutico é efetivo para aumentar a adesão ao tratamento medicamentoso da nefrite lúpica

A baixa adesão ao tratamento medicamentoso do lúpus eritematoso sistêmico (LES) está associada com o aumento de internações e da mortalidade dos pacientes com essa doença. As manifestações renais e neurológicas do LES são as mais graves em termos de morbi-mortalidade. Considerando a importância da adesão ao tratamento medicamentoso da nefrite lúpica, foi recentemente publicado na revista Lupus um artigo no qual é avaliada a efetividade do cuidado farmacêutico para o aumento da adesão ao tratamento medicamentoso da nefrite lúpica.

Os autores realizaram um ensaio clínico randomizado (ensaio pragmático, ou seja, realizado nas condições próximas àquelas encontradas na prática), em pacientes com diagnóstico de nefrite lúpica em um hospital público do Rio de Janeiro, Brasil. Os pacientes foram alocados em dois grupos: um grupo de intervenção (cuidado farmacêutico pelo método Dader) e um grupo controle (cuidado usual fornecido no hospital público). A adesão ao tratamento medicamentoso foi medida pela avaliação da resposta à combinação de cinco perguntas normalmente empregadas na prática clínica.

Foram avaliadas e randomizadas 131 pacientes femininas adultas com diagnóstico de LES de acordo com o American College of Rheumatology (ACR), ou com o Systemic Lupus International Collaborating Clinics Group (SLICC). Além disso era necessário preencher as seguintes condições: diagnóstico de nefrite lúpica classe III, IV e/ou V confirmada por biópsia, insuficiência renal aguda, síndrome nefrótica, proteinúria ≥ 1 g/24 horas ou razão proteína/creatinina ≥ 1, devido ao LES em pacientes sem biópsia; além de tratamento incluindo pelo menos uma medicação usada para a terapêutica da nefrite lúpica.

Após 12 meses de seguimento, a adesão à terapia medicamentosa foi reavaliada em ambos os grupos.

Das 131 pacientes randomizadas, 122 completaram o estudo com uma média de seguimento de 12,7 meses, utilização de seis medicamentos diferentes por dia e 10 a 12 doses por dia. Foi observada baixa adesão em ambos os grupos no início do ensaio (linha de base) (grupo de intervenção: 30%; grupo controle: 29%). Na análise por intenção de tratar, o cuidado farmacêutico apresentou 27% de efetividade (Intervalo de confiança de 95% (IC): - 6% a 50%). Na análise por protocolo a efetividade foi de 31% (IC 95%: 0% – 52%). Essas análises levaram em conta a adesão a todos os medicamentos. Ao considerar apenas os medicamentos específicos para o LES, a efetividade do cuidado farmacêutico foi de 64% (IC 95%: 34%-80%) na análise por intenção de tratar e de 62% (IC 95%: 32% - 79%) na análise por protocolo.

A adesão à terapia medicamentosa foi medida com perguntas simples inspiradas na abordagem clínica. O formato em cinco itens objetivou o aumento da sensibilidade garantindo a validade de conteúdo do processo de medida.

Como foi empregado um ensaio pragmático, os resultados do estudo provavelmente podem ser extrapolados para outros estados do Brasil, e até mesmo para outros países.

Os resultados desse estudo justificam a implementação do cuidado farmacêutico nos serviços onde há tratamento de pacientes com lúpus eritematoso sistêmico.

Referência: Effectiveness of pharmaceutical care for drug treatment adherence in women with lupus nephritis in Rio de Janeiro, Brazil: a randomized controlled trial. Oliveira-Santos, MVerani, J F SCamacho, L A Bde Andrade, C A FKlumb, E M. Lupus ; 28(11): 1368-1377, 2019 Oct.