O tabagismo passivo na infância aumenta o risco de desenvolvimento de artrite reumatoide
Foi publicado por Raphae` le Seror e colaboradores na última edição do conceituado periódico inglês Rheumatology (Volume 58 Issue 728, 1154-1162) um artigo que avaliou a existência da associação entre a condição de fumante, incluindo a exposição passiva na infância, e o risco de desenvolvimento de artrite reumatoide (AR).
A coorte francesa E3N incluiu 98.995 mulheres voluntárias seguidas prospectivamente desde 1990. Questionários auto-administrados a cada dois a três anos coletaram eventos médicos, características gerais, de estilo de vida e ambientais. O risco de AR incidente foi estimado usando um modelo de Cox ajustado à idade que considerou a condição de fumante como uma variável dependente do tempo.
Após exclusão dos casos prevalentes e perdas por ausência de resposta ou por informações incompletas, permaneceram 71.248 mulheres, entre as quais foram confirmados 371 casos de AR incidente. Tomando-se como referência as mulheres não fumantes e sem exposição passiva na infância, fumantes nunca expostas ao tabagismo passivo apresentaram risco aumentado de AR [1,38 (Intervalo de Confiança (IC) - 95% 1,10 - 1,74)]. Nas mulheres que nunca fumaram, a exposição passiva ao fumo durante a infância foi associada com uma tendência ao aumento de risco da mesma faixa que o tabagismo ativo em adultos, com uma razão de risco (HR) de 1,43 (IC 95% 0,97- 2,11). Fumantes que também sofreram exposição passiva ao tabagismo na infância tiveram um risco de AR mais elevado do que os fumantes não expostos durante a infância [HR 1,67 (IC 95% 1,17 - 2,39)], mas sem diferença significativa (P = 0,30).
Para explicar o papel do tabaco no desenvolvimento de AR, existe evidência de que o tabaco possa induzir a citrulinação de proteínas nos alvéolos pulmonares, nos quais a imunidade contra antígenos citrulinados pode ser desencadeada nos indivíduos suscetíveis, como aqueles que apresentam o epítopo compartilhado.
Esse estudo confirma que o tabagismo ativo está associado a um risco aumentado de AR. Além disso, trata-se do o primeiro estudo que sugere que a exposição passiva ao tabaco durante a infância também pode aumentar o risco de AR em futuros fumantes e, provavelmente, também em não-fumantes. Esses resultados destacam a importância de se evitar qualquer ambiente de tabaco em crianças, especialmente naquelas com história familiar de AR.
Apesar das regulamentações atuais contra o tabagismo terem reduzido a exposição ao mesmo em locais públicos, a exposição passiva que ocorre nos lares está sob a responsabilidade dos pais, que devem estar cientes de tal risco.
Autor: Dr. Carlos Augusto AndradeReumatologista da SRRJ