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Risco de disfunção sexual no lúpus eritematoso sistêmico

Será que pacientes diagnosticados com lúpus eritematoso sistêmico apresentam mais risco de apresentar disfunção sexual do que a população saudável?

Na última publicação do periódico internacional Lupus (DOI: 10.1177/0961203320974081) um grupo de pesquisadores de Beijing, China, (Lin et al) publicou uma revisão sistemática com meta-análise para tentar responder a essa interessante pergunta.

Após introduzirem brevemente aspectos gerais da doença, os autores definiram “disfunção sexual” como “distúrbios que impedem que os parceiros alcancem satisfação sexual”. Complementaram citando que nas mulheres incluem entre outros distúrbios alterações dolorosas e do orgasmo, enquanto que nos homens podem ocorrer disfunção erétil e redução da libido.

Os pesquisadores justificaram a necessidade de realizarem uma revisão sistemática por três motivos: i) variação grande do relato desses distúrbios nos pacientes com lúpus (15% a 85,9%); ii) controvérsias em pelo menos dois estudos em relação a maior frequência de distúrbios nesses pacientes em relação ao restante da população (64,10% vs. 35,7% - p<0.001 e 52,5% vs. 47,1% - p = 0,206) e, iii) achado de uma meta-análise prévia de apenas dois estudos, inconclusivos sobre essa associação.

Lin et al pesquisaram com rigor metodológico as bases PubMed, Embase, Cochrane Library e Web of Science.

Os pesquisadores chineses selecionaram oito artigos (758 pacientes com diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico e 1724 no grupo controle) e apresentaram o risco relativo combinado (RRc) para a relação disfunção sexual/lúpus eritematoso sistêmico (RRc = 1,80; intervalo de confiança (IC) de 95% - 1,12-2,87- I 2 = 95,2%). Mostraram também que os homens apresentaram maior risco desses distúrbios (RRc =2,98; IC de 95% - 2,41-3,68 - I 2 = 0%) do que as mulheres (RRc = 1,56; IC de 95% - 0,99-2,48 - I 2 = 94,2%). Apenas os  resultados dos pacientes masculinos apresentaram heterogeneidade estatística leve (índice I 2 < 50%).

Os autores mostraram que a qualidade metodológica dos estudos selecionados, avaliada pelo instrumento da Agency for Healthcare Research Quality (AHRQ), variou de moderada a alta. Destacaram que tanto a idade dos participantes quanto a qualidade dos artigos incluídos possam afetar os resultados.

Lin et al destacaram que os tabus relacionados à sexualidade podem explicar a raridade de abordagem da “saúde sexual” pelos profissionais de saúde e até seu relato pelos próprios pacientes.

Estes pesquisadores discutiram aspectos como a possibilidade de as disfunções sexuais causarem frustração e angústia, e impactarem o relacionamento de um casal e a satisfação sexual. Completaram ressaltando que o fato de não abordar as disfunções sexuais pode acarretar ansiedade e depressão, e  prejudicar o relacionamento interpessoal dos parceiros. Os autores chineses ainda ressaltaram que o prejuízo da qualidade de vida pela disfunções sexuais determina que as mesmas devem ser consideradas um problema significativo de Saúde Pública.

Devemos destacar que Lin et al citaram um estudo de outro autor chinês  que mostrava que a dismorfia corporal pode ter um efeito prejudicial influenciando os problemas sexuais nos pacientes com lúpus eritematoso sistêmico. Além disso, destacaram que esses pacientes são frequentemente afetados pela desfiguração causada pelas erupções cutâneas e perda de cabelo que ocorre.

Por fim, os autores concluíram que esta meta-análise sugeriu que o lúpus eritematoso sistêmico poderia ter um efeito potencialmente deletério em relação ao desenvolvimento de disfunção sexual tanto nos pacientes do sexo feminino quanto masculino. Acrescentaram que disfunção sexual consiste em um problema solucionável, que pode ser melhorado com aconselhamento adequado e intervenções de saúde. Os autores finalizaram ressaltando a urgência em implementar intervenções que objetivem tratar ou prevenir disfunções sexuais dos pacientes com lúpus eritematoso sistêmico.

E você? Você tem abordado a disfunção sexual nos seus pacientes com lúpus eritematoso sistêmico?

Autor do resumo: Carlos de Andrade

Diretor Científico (SRRJ - 2019/20)

Presidente Eleito (SRRJ – 2021/22)